quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ao seio entrincheirado,
segregado da alma,
refém é o coração
ao que  apiedadas,
lágrimas se desprendem
querendo dar de beber
á dor…
Mas,
viciosa,
a dor
não se sacia,
ébria de si
clama mais e mais
afogando nos olhos
a sede de beber
da  fome de beijos
dados à boca
na serenidade
complacente
da carícia negada…

AV

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"Segredo..."

Há coisas que calo,
bem fundo,
tão no fundo do peito
que parece que criam raízes…
Coisas que tento guardar,
coisas que enterro
no mais profundo do ser,
tão fundo,
que parecem que criam raízes…
E florescem,
frutificam…
E crescem…
E, sem querer,
ou querendo não querer,
vou adubando,
alimentando,
até um dia…
Até que um dia
não tenha mais esperanças
que as alimentem
e que,
por si mesmas,
definhem …

E com elas…

Eu...
AV

"Escadaria.."

A escadaria,
abrupta,
que se debruça
no abraço
do corrimão calejado
ás mãos trementes
na  vertigem da descida,
à angustia de quem sobe…
Som que ecoa
ao tropel de passos
acima, abaixo,
Ofegantes…
subindo…
descendo…
hesitando…
O fim
virando principio
no interminável
da roda do tempo
ao pedestal da ascenção…
Enclave de portas
descerrando segredos
no sussurro dos namoros escondidos
à  verdade incerta…
Escada,
Fria… Vazia…

AV

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Bordado inacabado...

Bordando
as horas
em fios de dias
desfio a meada
na cantilena
do desassossego
a que me apego
no  desapego
das mãos que laboram
à desgarrada ...
Tecem,
e padecem,
entre o ir e o vir
da trama tecida,
ás flores enredadas,
na teia de fios,
agora,
de cor,
em alvo linho,
sangradas...

AV

segunda-feira, 29 de março de 2010

Agarrei o meu coração,
peguei-lhe,
pesei-o,
e vi que nada valia,
nada,
só assim se poderia compreender,
só assim perceber,
o porque de,
tão facilmente,
ser magoado!
Peguei no meu coração
e rasguei-o,
jogo-o agora fora,
para bem longe,
para onde não mais
me possa causar estragos...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"Intempérie"

A intempérie espraia-se
pela noite derramada,
chicoteia com seus uivos
as copas de árvores presas
que narram histórias
deixadas gravadas pelo vento
em cicatrizes pelos troncos...
Histórias de outros ventos
que varreram o interior de mim
na ânsia desabrida
de um tempo escorreito,
sem termo,
na vaga hirsuta
de outras memórias
há muito esquecidas...
Quedam-se
em pedaços
os céus
ribombando em estilhaços
na luz cortante
do pano de fundo
de um horizonte
e no ribombar tenebroso
embalam-se sonos esquivos
à balada das chuvas despertas...

AV

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"Mística"

Viajo,
parto,
para muito longe,
dentro de mim,
e perco-me...
perco as distâncias do tempo,
das falas,
e vivo,
vivo cada palavra trocada
como minuto recente...
Dentro,
no peito,
na alma,
nada muda,
o sentir e o desejo
permanecem,
iguais,
imutáveis...
As memórias não são passado,
são presente,
de um presente sempre recente...
Ah se a minha alma
te pudesse falar
o que a palavra preguiça em dizer!
Na ternura que me inunda
ao abraço mais que desejado
encharcado na torrente de beijos
mas mal tu sabes...
Mal sabes que a minha mística
és TU...

AV