quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Sangro o tempo
na busca, efémera, do momento,
do vislumbrar,
mais além, além de mim,
das memórias, para além dos outros,
do que, e de quem, está para vir...
Abarco, abraço, inspiro o ar
na sofreguidão do viver
e me deslumbro
no renascer da alma
a cada novo, afogueado, amanhecer...

AV

Porque latem os cães...

Na penumbra,
aninhada,
no silêncio
da noite
oiço,
escuto,
a vida,
calada,
lá fora...
 Rasga
a mudez envolvente
o latir
dos cães,
acorrentados,
aprisionados,
sentindo
vibrar perto
a vida
sem,
contudo,
a alcançar,
não é alerta,
aviso a seu dono,
é lamento,
lamento
de querer
viver
e não poder...
Cão que,
na noite,
não late
já não vive,
ou sobrevive...
É surdo...
Ou triste...
Também
na mudez
grito,
dentro
me debato
na liberdade,
suprema vontade,
de ser
livre...

AV

Surdez

Surda
gostaria
de ser
ás palavras vãs,
cega
ao gesto falso,
muda
perante
a palavra,
muitas vezes,
incontida...
 Não ouvir
o que a alma
fere,
não ver
o que
o coração magoa...
Pulsa
em mim
nova vida,
uma força imensa,
num rasgo
premente
de desbravar
dias novos,
amanheceres
marmoreados
de purpura,
ouro
e escarlate
que pingam
jactos de luz
em meu olhar
deslumbrado...
É imenso
este poder
que sinto,
que transpira
do ser
em uma aura
jubilante
de alegria...