domingo, 27 de janeiro de 2013

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

"Porque hoje..."



Porque hoje
apeteces-me,
alma e alento,
no desapego
dos desejos
emprenhados
no morder
das palavras
ao rodilho,
ensurdecedor,
dos lençóis revoltos
nos corpos náufragos
em tormentas
de mãos
que se perdem
em vagas,
turbilhões
de peles desnudas,
desnudadas
em vagas
que se perdem
de mãos
em tormentas
nos corpos náufragos
dos lençóis revoltos,
ensurdecedor,
ao rodilho
das palavras
no morder
emprenhados
dos desejos
no desapego,
alma e alento…
Porque hoje
Apeteces-me…

AV

quarta-feira, 21 de março de 2012

Jogo
o jogo da palavra,
amealhando o verbo,
no verso sem rima,
baralho letras,
acumulo som
na cacofonia da sonoridade,
da palavra solta a alta voz,
e respiro,
na escrita, no eco,
do dado lançado,
da palavra dita...
E as palavras que jogo
semeio-as ao vento
na senda do término
de um sonho fértil,
sem paralelo
nos olhos que buscam,
cercam os meus,
acossados,
na querença
de uma outra bem querença,
ténue como  asas de efémera,
sonho são de vã esperança  
de que alcances alma minha
e no sonho errado
desejo o certo
desesperando
nesta espera
de cesto sem fundo
no que alcanço não atingir
enquanto dou de beber
ao sonho,
soberbo de se achar único.
Sonho certo
o desejo errado,
sonho a solidão
no desejo da paixão
e sonho a paixão
no desejo da solidão
porque sonhando
sinto que vivo
e pelas lentes trespassadas
olho o longe
como se fora perto
porque o perto,
há muito,
se tornara incerto
no desconforto desassossegado
de um outrora,
que desejara,
de há muito
já passado…


                   
AV

terça-feira, 24 de janeiro de 2012


Varrem-se todas as palavras
ao sabor dos ventos
nesta impaciência
que impacienta
o desassossego
das coisas,
na tormenta
do que se ignora
porém
espera…
E esperando
desespera
nesta sede
de esperança desabrida
de me negar
no momento
agora…

AV

domingo, 15 de janeiro de 2012

"Quebranto..."


Quebra-se o fado
da velha vida
no mergulho
de tépidas brumas,
na vertigem
dos ventos
semeados
no tropel
de palavras trespassadas
no quebranto
de um carinho aniquilado…
Quebram-se
correntes
á ferrugem
dos tempos
já idos,
á vinda
de férreas vontades
paridas
no seio cativo
de uma ambicionada liberdade…
Quebra-se o tempo
a cada minuto
rebatido
pelo pêndulo
imperativo
das horas esgotadas…

AV

sábado, 14 de janeiro de 2012

"Vida..."

Serei eu
 quem está
diante desta taça
meio vazia?
Ou serei,
 antes,
a  que se encontra
 diante da taça meio cheia?
Sou,
uma ,
e outra,
a  mesma,
diante da taça meio vazia
sedenta de outro tanto
de vida…
Sou,
a que diante
da  taça meio cheia
ébria  da vida bebida
partiria  já contente…
Por isso brindo
para que a taça,
tão breve
não se encontre,
de todo,
 vazia...

AV

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Porta...

Porta aberta,
aberta ao sonho,
impelindo-nos
a penetrá-la,
a descobrir
um renovado espaço.
 Porta aberta,
aberta
e abençoada,
sua benção celeste
pelos santos
compartilhada...
 É porta amiga
dizendo-nos:

"Vem,
entra,
estou aqui para ti..."

Filha
de inquieta Mulher,
também tu,
por amor,
nasceste,
filha de Lisboa
e de seus eternos amantes.
 Porta aberta,
aberta ao desconhecido,
misto de encanto
e mistério.
 Quantos dramas,
paixões,
encerrados estarão
em teu seio,
quantas lágrimas,
derramadas,
tiveras,
quanto riso
escutado
houveras,
tu,
porta aberta,
aberta á saudade,
aberta para a vida...

AV

Vigia...

Vigia Mulher
no regaço
de tua porta,
espia
o dia que,
sem demora,
se espreguiça,
vela,
sem receio,
o sol,
de um sorriso,
gerado.
 Vigia Mulher,
mas me dá
teu sorrir,
me demonstra
teu jeito
num lento arfar
de teu generoso peito.
 Tua curiosidade,
excedente,
te lança,
num arremedo,
ao postigo
dessa porta,
brutal agilidade,
de um,
aparente,
pesado corpo,
forma indefinida
de agir perfeito,
figura monumental
em meio de caixotes
perdida,
disformidade
comedida
de quase beleza,
árduo corpo
pela vida calejado,
espia pois
Mulher
tudo o que
da vida vier...

AV

Alfama

Réstias de céu
se esgueiram
pela calçada
mal desperta,
vêm beijar
o branco
do casario
e fazem negaças
ás laranjeiras,
que sobranceiras,
espreitam
formosa viela.
 Ainda o dia,
ora nascido,
se espreguiça,
comungando a luz
em rubros beirais
já Alfama
apregoa
sua beleza gentia.
 Com a manhã
violam,
a viela,
matinais cheiros,
que arredios,
se escapam,
por frestas ,
de fecundas janelas
que a custo,
no ventre,
os querem reter.
 É tanta poesia
que
em cada pedra
transpira
que cativos
ficam os olhos
e aprisionada
minha alma...

AV