quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Porta...

Porta aberta,
aberta ao sonho,
impelindo-nos
a penetrá-la,
a descobrir
um renovado espaço.
 Porta aberta,
aberta
e abençoada,
sua benção celeste
pelos santos
compartilhada...
 É porta amiga
dizendo-nos:

"Vem,
entra,
estou aqui para ti..."

Filha
de inquieta Mulher,
também tu,
por amor,
nasceste,
filha de Lisboa
e de seus eternos amantes.
 Porta aberta,
aberta ao desconhecido,
misto de encanto
e mistério.
 Quantos dramas,
paixões,
encerrados estarão
em teu seio,
quantas lágrimas,
derramadas,
tiveras,
quanto riso
escutado
houveras,
tu,
porta aberta,
aberta á saudade,
aberta para a vida...

AV

Vigia...

Vigia Mulher
no regaço
de tua porta,
espia
o dia que,
sem demora,
se espreguiça,
vela,
sem receio,
o sol,
de um sorriso,
gerado.
 Vigia Mulher,
mas me dá
teu sorrir,
me demonstra
teu jeito
num lento arfar
de teu generoso peito.
 Tua curiosidade,
excedente,
te lança,
num arremedo,
ao postigo
dessa porta,
brutal agilidade,
de um,
aparente,
pesado corpo,
forma indefinida
de agir perfeito,
figura monumental
em meio de caixotes
perdida,
disformidade
comedida
de quase beleza,
árduo corpo
pela vida calejado,
espia pois
Mulher
tudo o que
da vida vier...

AV

Alfama

Réstias de céu
se esgueiram
pela calçada
mal desperta,
vêm beijar
o branco
do casario
e fazem negaças
ás laranjeiras,
que sobranceiras,
espreitam
formosa viela.
 Ainda o dia,
ora nascido,
se espreguiça,
comungando a luz
em rubros beirais
já Alfama
apregoa
sua beleza gentia.
 Com a manhã
violam,
a viela,
matinais cheiros,
que arredios,
se escapam,
por frestas ,
de fecundas janelas
que a custo,
no ventre,
os querem reter.
 É tanta poesia
que
em cada pedra
transpira
que cativos
ficam os olhos
e aprisionada
minha alma...

AV