quinta-feira, 18 de setembro de 2008

"Ambição"

Quantas vezes houvera
que em lugar
de um coração batendo
uma pedra,
em seu lugar,
tivera,
que em seu lugar,
mais alto,
falasse
o fogo fatùo
de demente
paixão...
Quantas vezes
ousara eu querer
dos que amo
não mais
querer saber...
Ah!
Pudera eu
a ousadia
dos cobardes
ter,
da razão
e do sentimento
fugir...
Mas não posso,
não o devo,
sequer o consigo
e,
bem no fundo,
não o quero...


AV

"Sepulcro"

Assaltou-me a tristeza,
e, na raiva calada,
criou fundas as raízes
fendendo o peito,
estrangulando a alma...
Perdi as crenças,
emudeci os lábios
e no silêncio prestei juras
de mais não revelar as cores em mim...
Não mais, de viva voz, soltar o que sinto,
as vozes que prendo no seio,
a verdade guardada...
Sepulto, no ser, todas as esperanças
e, com elas, me sepulto,
igualmente, em mim...


AV

"Serei..."

Não mais sou
quem fui,
quem era,
o que desejei ser...
Somente sou
o que permiti
que
de mim
fizessem,
fruto,
de doce-amargo,
de um amor magoado...
Sou semente,
de melâncolia,
plantada,
no ocaso
de um acaso,
presente envenenado,
rasgando a terra,
vertendo,
da vida,
a seiva...
Não mais sou
quem fui,
quem desejei ser,
serei,
porém,
um amanhã
que eu quiser...

AV

"Remendos"

Deambulo
em pensamentos
pelas horas
em que o silêncio
impera
e
interpelando
os sonhos
no remanso
das ideias
remendo
outras horas
de um passado
tão presente...
De tais remendos
faço meu andrajo
e,
assim,
ataviada
recebo
do presente
um futuro

AV

"Vergonha"

Vergonha,
constrangimento,
vezes,
e vezes,
sem conta,
o arrependimento,
da palavra solta,
do impropério
lançado contra,
a graça triste,
descabida,
em momento impróprio...
Embaraço
que fica,
roí,
corroí,
que crava,
suas garras,
fundo,
a mágoa arremessada...
Nada,
mas nada,
embaraça mais
que a consciência
plena
do ridículo
próprio...

AV