segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"Tanto mais..."

Quantas e quantas vezes
pode um pouco
dizer tanto...
Quantas e quantas vezes
não fala mais alto
o silêncio sobre o verbo...
Quantas e quantas vezes
mais se não diz
na eloquência de um só olhar...
Quantas e quantas vezes
um só verso não diz mais
que todo um poema...
A palavra é, tão somente,
a cor dos sentidos
e esses são imensamente maiores
que qualquer palavra...
Logo, por muito pouco que me digas,
me dirás tanto mais...


AV

sábado, 27 de setembro de 2008

"Sussurros"

Sussurrando segredos,
como vizinhas que são,
se expõem sem medos
e falam com emoção...
Com histórias de dias passados
emudecem suas vozes,
perdidos julgam já
seus tempos idos
e espreitam,
espreitam humildemente,
o dia vindouro
como quem espreita
a hora seguinte,
já não mais receiam desaparecer,
o tempo,
esse terno sábio,
assim as fez saber...
Sussurram,
as velhas casas,
e perguntam à calçada
o dia que passa,
conspiração muda
de tempos antigos...
"É hoje sábado vizinha,
iremos amanhã à missa"
parecem murmurar
recolhendo-se, então,
ás portas da noite
que chega...


AV

"Lisboa"

Meu tempo cruel,
de sedução incomedida de vontade
no despir de teu corpo
por tanta lágrima pelo céu derramada,
tua cor pelo sol consumada,
secreta vivência pela vida declamada...
Exíguo é meu escrever
perante tal fulgor,
é querer, e não querer,
de quem não faz qualquer favor...
E é tal tua majestade
em cada célula de teu corpo
de pedra esculpido,
Lisboa desperta,
que pequeno é meu engenho
para descrever Lisboa
cidade aberta...



AV

"Varina"

Canta Varina canta,
canta e encanta,
liberta teu pregão
e que eterno seu eco seja
nos poros da viela,
que teu fado,
tua sina,
por todo o sempre,
ressoe por entre as pedras da calçada
que teu cheiro,
teu corpo se perpetue
por minhas palavras,
embora parcas e pobres
para reter tua beleza...
Amanhas peixe
como quem faz afagos
e é poema tua voz
que pintor algum
pintar poderá,
desenha na almas
novo caminho
e nos enleva
ao altar da humildade
fazendo-nos sentir nada
no aparente nada
que crês tua vida...
E escamando,
amanhando teu peixe
conquistas cada minuto
da tua existência
como quem conquista
uma batalha mais
sendo mais honrada tua luta
e amorável tua vitória...


AV

"Olhar"

Quanta sabedoria,
quanta mágoa velada,
que tu,
Lisboa,
em um pestanejar revelas...
São olhos que
nada ocultam,
são olhos marcados,
cansados,
marcas de um tempo que,
sem o quereres,
nos relatam histórias
de outras eras,
de outras idas vontades,
impulsos caprichosos
de uma cidade que busca suas gentes
e as usa como adorno,
fêmea vaidosa
piscando o olhar
a seu corpo intemporal ...
Já muito hás vivido,
objecto de tantas paixões
te tornaste,
muitas lutas,
amores,
desamores,
suportaste...
Quanto de ti, Lisboa,
não rezará a história
em uma vontade imprópria
de uma raça que te adora...


AV

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"Universo de... amar..."

Amar...
Amar é coisa de átomos,
gravidade,
matéria,anti-matéria,
incontáveis estrelas,
gravitando infindáveis de brilho
quais incomensuráveis sois
no olhar...
Amar,
questão de gradações de luz,
energia,
perdendo-se e reencontrando-se
no infinito
do infinitamente pequeno verbo amar...
Amar
é água,
vagas sem distancia,
marés ritmadas pela dança
da lua em noites cálidas
de azul em azul...
Campos magnéticos,
pólos de atracção,
física, química,
do nós, em nós,
na geografia dos corpos
em manhãs de azul-cobalto ferido,
azul-radioso rasgado,
azul-horizonte perdido...
Amar...
Células ouvindo-se,
olhos iluminando-se,
sabendo, de cor,
o barulho do pé no soalho lá fora...
Amar...
E mares, e sal,
governo de lua,
mistério, encantamento,
mulher, pluma,
tela e pétala
comunicando no éter...
Assim é amar...

AV

Inspirado nas palavras de um amigo


"Saudade"

Rasgo a alma
num vislumbre de saudade,
requebra-se-me o coração
banhado em um lago
de ternas lembranças
e escuto, então, minha voz,
perdida nas profundezas do ser,
relatando memórias,
sorrisos, lágrimas, quietude,
no apertar de mãos
ao entrelaçar dos dedos,
vincando em mim a alquimia,
amâgo do mais verdadeiro puro amar...
Rasgo a alma
num vislumbre de saudade
colmatando, assim, tua ausência,
tua física não presença,
com o corpo ténue e luminoso,
de te saber um ausente
sempre presente...

AV

"Melâncolia"

Como rasgar
gostaria
esta tristeza
em mim,
esta angústia
que queima,
corroí,
em lume brando
o fervilhar
do pensamento...
Calar,
quereria,
no fogo
gelado
das lágrimas
o rosto
do tormento
que beija
minha face...
Ah tristeza!
Vilania...
No caminho,
já trilhado,
perdi-me
da alegria,
fugiu de mim
o riso
e juntou-se-me,
cúmplice,
a melancolia...

AV

"Delírios"

Mergulhar,
preciso,
nessa nascente
de delírios,
banhar-me
na liberdade
de ser,
fazer,
parte de um todo...
Embrenhar-me
no reduto
da fantasia
onde
os sentidos
como que
se me apuram
e cobrir-me
de finos véus
tecidos
na ténues teias
de um todo desejo...
Veleidades
espôntaneas
de alma sedenta
e cujo o sonho
acalenta...
É mister
buscar,
inquirir causa
de tal inquietude
afugentando
temporais
paridos
no remanso
da incerteza
para me quedar,
enfim,
no regaço
da esperança...

AV

"Luz"

Vagueando
divago
meu anseio
de novas brisas,
de um todo
novo espaço,
busco renovação,
o renascer,
nessa luminosidade
que incendeia,
castiga
e enobrece...
Nessa luz,
humilde,
me cubro,
sequiosa
de saber
e não exito,
nem vacilo,
perante o galope
desenfreado
das emoções
quando,
em disparada,
parto
sem outro destino
que não seja
perder-me
sulcando
profundezas
de uma ambição
de força maior...
É torrente
que se não desfaz,
contrariamente,
se agudiza,
quedando-me
seduzida
por inteiro
em um mais
completo domínio...
E quão manso,
e aprazivél,
se me apresenta
que difícil
se torna
me não render...

AV
Placidamente,
em silêncios
entrecortados,
rasgam trilhos
as lágrimas
na solidão
de sorrisos esquecidos...
Perdidos
na memória
que estão
vêm da dor,
de um frio
que parte
de dentro
na carência
de um sentir...
É dor
que queima
sem se ver,
é dor
que arde
sem querer...
E,
sou eu,
que sobrevivo
sem mesmo saber
o porquê...
O porquê
de o querer...

AV

"Felicidade"

Abrange a alma
o que a vista
jamais alcança...
Sentir intrépido
de astuto beijo
aos lábios roubados,
carícia insurrecta
em corpo,
um tudo,
nada,
algures
perdido,
domesticado...
São mãos
que,
em tempo algum,
o vazio tocaram,
são mãos
cheias de tudo,
de nada repletas,
por onde,
talvez,
os olhos
nunca se repousaram...
É corpo
onde água
se sacia
e se afoga,
elixir meu,
que em braços,
abraços,
me acolhe...
Sal que
me não queimou
a lágrima
que pela face
escorre
na pele embebida
por trejeito
de felicidade
talvez,
por nunca,
conseguida...

AV

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"Amigo"

Amigo...
Amiga...
Amigos
não têm sexo,
Amigos
não têm género,
Amigos
são anjos
feito gente
que,
com saber,
nos aprenderam
a ver
com olhos
de sentir
e,
a saborear,
com palavras
de verdade...

AV

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

"Abraço"

Hoje
queria um abraço,
um abraço quente,
forte,
um daqueles
abraços
que aquecem
até á alma...
Um abraço
somente,
sem perguntas,
sem cobranças,
dos que acalentam
e confortam...
Hoje
gostaria de um colo,
um colo
como quando
em criança,
simples,
terno,
carregado de mimo
e de muitas promessas
de uma doce
e imensa esperança...

AV

"Hoje..."

Hoje
o Amor
acordou fatigado
de,
tão em vão,
ser,
vilmente,
apregoado,
desgastado
de tanto
o verbo
lhe consumirem...
Hoje
o Amor
sonhou,
sonhou do verbo
forma não ter,
ser mais visivél,
uno,
indivisivél,
palpável...
Hoje
o Amor
orou
para que,
Dele,
menos alarde
se fizesse
e mais sentido
fosse...
Por tudo isto,
hoje,
o Amor
chorou...

AV

"Beijo"

Apetecia-me
beijar-te,
não só a boca,
não só o verbo,
mas,
também,
a alma
na nudez
da alma minha...
E,
em transparências
de seda,
despir-me,
nessa nudez,
á paleta
dos beijos dados
em meio
de palavras ditas,
desditas,
escritas,
tocadas,
trocadas,
no entremeio
do veludo grenát
dos lábios teus,
meus...
E,
perdida,
em meio
a beijos nossos
exalar feliz
um último suspiro
no delírio
extenuado
de um beijo teu...

AV


"Raiva"

Em um convulsivo torpor,
chafurdando
na imundice
de almas
conspurcadas
de inveja
me sinto,
também eu,
suja,
suja pela mágoa
de perceber
quão maléfico,
e mesquinho,
pode o HOMEM ser...
Cresce
em mim,
de uma forma
que não domino,
uma surda angústia
gritante
no meu silêncio,
na mordaça
que me imponho,
dolorosamente
impotente...
Com ganas
gritaria
quanto asco
no peito cresce
e aumenta
minha fúria
na impossibilidade
de o fazer...
Cruel humana forma
de ser,
que temo
me contagie
na surdez
que tão imensa raiva
me provoca
pois
que não há
tão desumana
forma de ser
que
a da crueldade humana...

AV

"Tempo"

Tempo,
ter e não ter
um tempo
para dar...
Tempo ao tempo
atempadamente
sem saber,
muito bem,
o que fazer
a um tempo...
Falta-me tempo
para sonhar,
para fazer
o tempo
que me sobeja...
Temporalizar
a verdade,
de si,
temporalmente
intemporalidade...
Saber
gostaria
o que sou,
ao tempo,
no tempo
em que estou...
Sei,
contudo,
que,
de todo,
não sou
tempo perdido,
no entanto,
pedindo tempo,
ao tempo,
perco tempo...

AV

"Sonho"

O sonho
ultrapassa
a verdade,
de si,
inultrapassável,
vagueia em tempo,
de espaço,
diáfano,
divaga
em um verbo
pontilhado
de sentido
e se perde
em um crescendo
de indefinivél
melodia...
O sonho
é força,
paradoxo,
fraqueza,
é tudo e nada,
meias tintas,
pastel,
branco e negro,
paleta em que,
como que sonhando,
pinto,
todo,
um novo dia...

AV

"Ânsia"

Vivo na ânsia
de um tempo
que tarda...
Aguardando
um não sei o quê
e nas entrelinhas
de um tempo corrente
ocupo a alma,
dividida,
multiplicada,
na escrita destas,
ainda que mal,
mas sentidas,
traçadas linhas
traduzindo,
nelas,
toda uma inconstância
de estados de alma
que me dilaceram
e rasgam
o ser
em uma luta,
de sensibilidades
sem senso,
extravasando angústias
e alegrias
em um arremedo
de sentidos projectados
num desejo
bem aventurado...

AV

"Estéril"

Estéril,
no verbo,
na alma...
Como se...
Como se me houvera
secado
todo o rodilho
de palavras,
de sentimentos,
como se
minha poesia
jamais
o houvera sido...
Semi-consciência
do vazio
em mim
na inconsciência
de tanto...
Sei,
no entanto,
que,
do mundo,
tanto ignoro
e ignoro
o que não sei
de tanto
mundo...

AV

"Neblina"

Enfeita a manhã
leitoso véu
de neblina
que turva
o olhar
sobre estas águas
do rio
que me conduz...
Quereria eu
que o horizonte
jamais
se descobrisse
e,
eternamente,
á deriva
navegasse,
sem fim
e sem termo
nesta lassidão
indolente
em que me quedo
cativa do silêncio
e do sonho...

AV

domingo, 21 de setembro de 2008

"Amo"

Amo
o nada
e o coisa nenhuma...
Amo
a solidão
na companhia
de mim
em estridentes silêncios
de um amor
agudo
nos graves...
Amo
o nada
e o coisa alguma
em um eterno
saber
de um amar
sem fim...

AV

"Inércia"

Esfuma-se a vontade
de tudo fazer, de tudo querer...
Debruça-se sobre o ser a inércia
qual desejo imperioso
de hibernar o corpo
e soltar as amarras da alma,
e navegar por sonhos, em sonhos,
deixando a brisa
roçar a face do pensamento
enfunando velas que impulsionam
até onírica ilha de fantasia...
Desejara, eu, aí,
atracar minha nau,
vazia de tudo,
plena de coisa nenhuma,
minha nau, meu batel,
meu sonho feito,
feito barco de papel...


AV

"Memória"

Na cadência
das horas,
ao badalar
do pensamento,
esvai-se
em cada momento,
em atrozes
compassos
descompassados
no desejo,
premente,
de parar,
reter,
memórias vãs,
fugazes...
E no silêncio
me quedo
temendo perder
o embalo
da efémera
memória
de mim...

AV

"Voar"

Ave ferida,
de asas cortadas,
em meu peito
aprisionada...
Engano...
A ave ferida
sou eu,
de asas cortadas,
aprisionada
em mim...
Clamo
por liberdade,
por um céu,
clamo
por dar asas,
ao sonho,
á vida,
vida em mim,
clamo
por silêncio
onde gritar possa
a angústia
que emudeço
na dor
de não poder voar...
Amem-me,
se assim o quiserem,
mas amem-me
livre...
Deixem-me voar...

AV

"Não me falem de amor..."

Não,
não me falem de amor...
Não me falem de sonhos,
de beijos
trocados
no sussurrar
dos lábios...
Não me falem
do calor,
gerado,
no regaço
de um terno abraço,
do perder
rumo ao norte
nos labirintos,
de pele,
de todo um corpo
desejado...
Não me falem desse amor,
não me falem
de amor algum...
Silênciem-se
as palavras...
Que reste o sentir
somente...

AV

sábado, 20 de setembro de 2008

"Incoerências"

Na incoerência
da palavra
espelha-se o desalinho
do espírito
em reveses
de sentidos,
contraditórios,
na apatia
em um vazio,
cheio,
de mim,
de um nada,
todo...
Na incoerência
da palavra,
palavras soltas,
vagabundas
na liberdade
do pensar,
palavras tão somente...

AV

"Liberdade"

Algures,
em um tempo
que não lembro,
me cortaram
as guias,
me tolheram as asas...
Remendei-as
com palavras,
fiz da escrita
céu
e,
assim,
tornei a voar...
Livre
de tudo,
de mais ainda,
e livre,
até,
de mim...

AV

"Pecado"

Tempos houve em que,
no fascínio dos deuses,
julguei encontrar redenção,
que na ilusão,
pela roda do tempo gerada,
sufocaria a angustia passada
e que nos braços de Orphéu
teria, para mim,
o amor a Eurídice destinado,
 que no carro de fogo de Apolo
teria meu transporte,
minha escada para o trono
no Olimpo da utopia...
Sonhei ser Vénus
em alguma paixão...
Por tudo isto me afundei
no pecado torpe
e cruel foi minha sentença
que a uma acutilante solidão,
em horas insanas,
me perpetuou...


AV

"Mulher"

Sou reino de ternura,
fonte de vida,
sou mulher...
Fruto outrora gerado,
semente que irá gerar,
sou terra,
fértil,
onde se dá o trigo,
fonte,
de amor,
permanente
sou primavera,
flor,
botão de rosa
a desabrochar,
coração
sempre pronto
a amar,
sou pássaro,
livre,
voando
em céu aberto,
sopro de calor
quando,
de ti,
estou perto
sou feita
de várias côres
e padrões,
mãe da humanidade
em todos os tempos,
esperança renascida,
dona dos ventos...
Sou confiança
no futuro,
bocadinho de luz
em mundo escuro,
pecado desejado,
teu desejo,
bem aventurado,
sou deusa,
por ti,
venerada,
tua sereia
talvez...
Sou raio
de sol
em cada família,
um oásis
no deserto
do teu desespero,
tábua de salvação
em meio
á tempestade
dos teus sentimentos,
sou estrela,
de luz radiosa,
em todos os firmamentos,
talvez que
teu destino seja
seguir meu olhar
para que
enfim possas
aprender a amar
mas,
concluindo,
dir-te-ei apenas...
Sou reino de ternura,
fonte de vida,
sou mulher...

AV


"Procuro-me..."

Perdi-me,
procuro-me...
Se me virem
dêem-me novas de mim,
de quem fui,
e hoje sou,
do que fiz,
do que hoje faço...
Digam-me se sou,
ou fui,
feliz,
se,
em algum momento,
amei
ou fui amada...
Perdi-me
e não me encontro,
não mais sei
quem sou,
fui,
ou serei...
Se me virem
dêem-me novas de mim,
e apenas digam
que me busco
para que,
de novo,
me encontre...

AV

"Espero-te..."

Na madrugada,
por lágrimas lavada,
lavo,
nelas,
também,
as manchas de dôr
no silêncio quebrado
de um momento...
Crio espirais,
ilusórias,
no vazio negro
esperando,
ansiando,
o raiar do dia,
novas da vida,
a luz do sol,
o canto matutino
do rouxinol
no plátano vizinho
e espero-te...
Espero-nos...
No reencontro
das palavras
deixadas por dizer...

AV

"Insónia"

Oca...
Vazia de mim
nesta infinda madrugada,
em busca
da palavra
rendilhada de sentidos,
sem sentido,
numa dispersão
de pensamentos
fugídios...
Escorro,
por entre os dedos,
as horas
de insónia,
intermináveis,
os segundos,
eternos moribundos,
do presente
já passado
e não vislumbro,
sequer,
um futuro imediato...

AV

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

" Fora..."

Fora eu
vento,
sol
e mar,
espaço
e tempo
na imensidão,
para além do ser,
imensa...
Fora
sede,
fome,
bem querença,
razão desvairada,
fora tudo
e fora nada,
partida
à chegada...
Fora
do início
o fim,
do meio
fora princípio
para
do término
ser reticência...

AV

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

"Ambição"

Quantas vezes houvera
que em lugar
de um coração batendo
uma pedra,
em seu lugar,
tivera,
que em seu lugar,
mais alto,
falasse
o fogo fatùo
de demente
paixão...
Quantas vezes
ousara eu querer
dos que amo
não mais
querer saber...
Ah!
Pudera eu
a ousadia
dos cobardes
ter,
da razão
e do sentimento
fugir...
Mas não posso,
não o devo,
sequer o consigo
e,
bem no fundo,
não o quero...


AV

"Sepulcro"

Assaltou-me a tristeza,
e, na raiva calada,
criou fundas as raízes
fendendo o peito,
estrangulando a alma...
Perdi as crenças,
emudeci os lábios
e no silêncio prestei juras
de mais não revelar as cores em mim...
Não mais, de viva voz, soltar o que sinto,
as vozes que prendo no seio,
a verdade guardada...
Sepulto, no ser, todas as esperanças
e, com elas, me sepulto,
igualmente, em mim...


AV

"Serei..."

Não mais sou
quem fui,
quem era,
o que desejei ser...
Somente sou
o que permiti
que
de mim
fizessem,
fruto,
de doce-amargo,
de um amor magoado...
Sou semente,
de melâncolia,
plantada,
no ocaso
de um acaso,
presente envenenado,
rasgando a terra,
vertendo,
da vida,
a seiva...
Não mais sou
quem fui,
quem desejei ser,
serei,
porém,
um amanhã
que eu quiser...

AV

"Remendos"

Deambulo
em pensamentos
pelas horas
em que o silêncio
impera
e
interpelando
os sonhos
no remanso
das ideias
remendo
outras horas
de um passado
tão presente...
De tais remendos
faço meu andrajo
e,
assim,
ataviada
recebo
do presente
um futuro

AV

"Vergonha"

Vergonha,
constrangimento,
vezes,
e vezes,
sem conta,
o arrependimento,
da palavra solta,
do impropério
lançado contra,
a graça triste,
descabida,
em momento impróprio...
Embaraço
que fica,
roí,
corroí,
que crava,
suas garras,
fundo,
a mágoa arremessada...
Nada,
mas nada,
embaraça mais
que a consciência
plena
do ridículo
próprio...

AV