domingo, 21 de setembro de 2008

"Amo"

Amo
o nada
e o coisa nenhuma...
Amo
a solidão
na companhia
de mim
em estridentes silêncios
de um amor
agudo
nos graves...
Amo
o nada
e o coisa alguma
em um eterno
saber
de um amar
sem fim...

AV

"Inércia"

Esfuma-se a vontade
de tudo fazer, de tudo querer...
Debruça-se sobre o ser a inércia
qual desejo imperioso
de hibernar o corpo
e soltar as amarras da alma,
e navegar por sonhos, em sonhos,
deixando a brisa
roçar a face do pensamento
enfunando velas que impulsionam
até onírica ilha de fantasia...
Desejara, eu, aí,
atracar minha nau,
vazia de tudo,
plena de coisa nenhuma,
minha nau, meu batel,
meu sonho feito,
feito barco de papel...


AV

"Memória"

Na cadência
das horas,
ao badalar
do pensamento,
esvai-se
em cada momento,
em atrozes
compassos
descompassados
no desejo,
premente,
de parar,
reter,
memórias vãs,
fugazes...
E no silêncio
me quedo
temendo perder
o embalo
da efémera
memória
de mim...

AV

"Voar"

Ave ferida,
de asas cortadas,
em meu peito
aprisionada...
Engano...
A ave ferida
sou eu,
de asas cortadas,
aprisionada
em mim...
Clamo
por liberdade,
por um céu,
clamo
por dar asas,
ao sonho,
á vida,
vida em mim,
clamo
por silêncio
onde gritar possa
a angústia
que emudeço
na dor
de não poder voar...
Amem-me,
se assim o quiserem,
mas amem-me
livre...
Deixem-me voar...

AV

"Não me falem de amor..."

Não,
não me falem de amor...
Não me falem de sonhos,
de beijos
trocados
no sussurrar
dos lábios...
Não me falem
do calor,
gerado,
no regaço
de um terno abraço,
do perder
rumo ao norte
nos labirintos,
de pele,
de todo um corpo
desejado...
Não me falem desse amor,
não me falem
de amor algum...
Silênciem-se
as palavras...
Que reste o sentir
somente...

AV