sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Poderia... escrever... sonhar...

Poderia escrever
palavras mil
na senda imemorial
do poema eterno,
na folhagem que se queda
à patine do tempo
que urge em passar
no afã, temeroso,
de que algo, alguém,
o possa reter,
o possa agarrar...
Retê-lo-ía  eu,
se o pudesse segurar,
em escritos, escritas,
das prosas que rimas
no verbo a sonhar...

AV
 

domingo, 13 de dezembro de 2009

Ver...

Porque quero eu
ver o que não vejo?
Perseguir no sonho
a imagem que sonhei
em busca de estrelas...
Em sequência surge o anjo
alado por alva plumagem,
magnificente,
altivamente despojado,
despido,
desvanecendo-se nos céus
de veludo azul profundo,
segue-se-lhe
exótico dragão
de carácter oriental,
reluzente de pó das estrelas,
rasgando o céu
para ceder a vez
a escorreita fachada
de templo de pedra sonhado
que da central janela
projecta invertido feixe de luz
para além do vale...
Persigo o sonho,
para além do sonhado,
e na senda do término do raio
acerco-me do seu fim
junto à escarpa lavrada
e descubro o início
na pedra escavada
diante da qual, eis-me, agora
enfim chegada
apenas porque quero,
porque desejo,
ver o que não vejo...

AV

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sede de escrita...

Horas há
em que a inspiração
não abona,
em que as palavras
não ocorrem,
são horas de secura
sem a saliva
dos versos
para saciar
a sede de escrever...

AV
Acabrunhado
desperta o dia
choroso de chuva caída
no cheiro a terra molhada
de salva, salsa e oliva...
Festeja
o corvo, o gaio e a cotovia
em grasnados e trinados
às bençãos do novo dia...
Segue a cega-rega
do tempo a seguir
e ri-se, agora, o sol
como que a brincar
ás escondidas
com certa nuvem aparecida...
E assim prossegue
em indelével
e silenciosa sinfonia...

AV

domingo, 6 de dezembro de 2009

Elogio do vazio

Tacteio o vazio
na ponta dos dedos
e dedilho o frio
em bailados displicentes
de brisas,
de frestas escapulidas,
escorrendo a fio
o degredo do espaço...
Discorro
a melodia do silêncio
abraçando a escuridão
e num lampejo
da noite que não finda
no dia que tarda
enxergo a lonjura
da claridade remanescente
do dia já ido...

AV

sábado, 5 de dezembro de 2009

Terra nua...

Vilipendiando todas as sortes
no atrevimento comedido
arremeto o olhar
pela vastidão
e encharco os olhos
no verde fresco
dos invernosos prados
embriagados de chuva...
Não me seduz
a terra nua
macerada
de ocre barrento,
não me seduz
despida,
sem seu manto matizado
de esmeralda
e verdes jade
em que,
a medo,
ousa o sol
momentâneas carícias...
Definitivamente
não me seduz
a terra nua,
não arada,
semeada
de ausência de vida...

AV

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Longe...

 Estava longe,tão longe,e não me dava conta do que queria...
Queria a escrita maior,translucida,
queria-a redonda, fechada sobre si, mas...
 Estava longe, tão longe...
Queria-a eterna, fecunda,cheia, cativa, de si, de tanto, mas...
 Estava longe, tão longe...
Queria todas as palavras
em um só poema
e toda a poesia em uma só palavra,

estava, porém, longe, tão longe...
 E não me dava conta do que queria...

AV