segunda-feira, 22 de setembro de 2008

"Abraço"

Hoje
queria um abraço,
um abraço quente,
forte,
um daqueles
abraços
que aquecem
até á alma...
Um abraço
somente,
sem perguntas,
sem cobranças,
dos que acalentam
e confortam...
Hoje
gostaria de um colo,
um colo
como quando
em criança,
simples,
terno,
carregado de mimo
e de muitas promessas
de uma doce
e imensa esperança...

AV

"Hoje..."

Hoje
o Amor
acordou fatigado
de,
tão em vão,
ser,
vilmente,
apregoado,
desgastado
de tanto
o verbo
lhe consumirem...
Hoje
o Amor
sonhou,
sonhou do verbo
forma não ter,
ser mais visivél,
uno,
indivisivél,
palpável...
Hoje
o Amor
orou
para que,
Dele,
menos alarde
se fizesse
e mais sentido
fosse...
Por tudo isto,
hoje,
o Amor
chorou...

AV

"Beijo"

Apetecia-me
beijar-te,
não só a boca,
não só o verbo,
mas,
também,
a alma
na nudez
da alma minha...
E,
em transparências
de seda,
despir-me,
nessa nudez,
á paleta
dos beijos dados
em meio
de palavras ditas,
desditas,
escritas,
tocadas,
trocadas,
no entremeio
do veludo grenát
dos lábios teus,
meus...
E,
perdida,
em meio
a beijos nossos
exalar feliz
um último suspiro
no delírio
extenuado
de um beijo teu...

AV


"Raiva"

Em um convulsivo torpor,
chafurdando
na imundice
de almas
conspurcadas
de inveja
me sinto,
também eu,
suja,
suja pela mágoa
de perceber
quão maléfico,
e mesquinho,
pode o HOMEM ser...
Cresce
em mim,
de uma forma
que não domino,
uma surda angústia
gritante
no meu silêncio,
na mordaça
que me imponho,
dolorosamente
impotente...
Com ganas
gritaria
quanto asco
no peito cresce
e aumenta
minha fúria
na impossibilidade
de o fazer...
Cruel humana forma
de ser,
que temo
me contagie
na surdez
que tão imensa raiva
me provoca
pois
que não há
tão desumana
forma de ser
que
a da crueldade humana...

AV

"Tempo"

Tempo,
ter e não ter
um tempo
para dar...
Tempo ao tempo
atempadamente
sem saber,
muito bem,
o que fazer
a um tempo...
Falta-me tempo
para sonhar,
para fazer
o tempo
que me sobeja...
Temporalizar
a verdade,
de si,
temporalmente
intemporalidade...
Saber
gostaria
o que sou,
ao tempo,
no tempo
em que estou...
Sei,
contudo,
que,
de todo,
não sou
tempo perdido,
no entanto,
pedindo tempo,
ao tempo,
perco tempo...

AV

"Sonho"

O sonho
ultrapassa
a verdade,
de si,
inultrapassável,
vagueia em tempo,
de espaço,
diáfano,
divaga
em um verbo
pontilhado
de sentido
e se perde
em um crescendo
de indefinivél
melodia...
O sonho
é força,
paradoxo,
fraqueza,
é tudo e nada,
meias tintas,
pastel,
branco e negro,
paleta em que,
como que sonhando,
pinto,
todo,
um novo dia...

AV

"Ânsia"

Vivo na ânsia
de um tempo
que tarda...
Aguardando
um não sei o quê
e nas entrelinhas
de um tempo corrente
ocupo a alma,
dividida,
multiplicada,
na escrita destas,
ainda que mal,
mas sentidas,
traçadas linhas
traduzindo,
nelas,
toda uma inconstância
de estados de alma
que me dilaceram
e rasgam
o ser
em uma luta,
de sensibilidades
sem senso,
extravasando angústias
e alegrias
em um arremedo
de sentidos projectados
num desejo
bem aventurado...

AV

"Estéril"

Estéril,
no verbo,
na alma...
Como se...
Como se me houvera
secado
todo o rodilho
de palavras,
de sentimentos,
como se
minha poesia
jamais
o houvera sido...
Semi-consciência
do vazio
em mim
na inconsciência
de tanto...
Sei,
no entanto,
que,
do mundo,
tanto ignoro
e ignoro
o que não sei
de tanto
mundo...

AV

"Neblina"

Enfeita a manhã
leitoso véu
de neblina
que turva
o olhar
sobre estas águas
do rio
que me conduz...
Quereria eu
que o horizonte
jamais
se descobrisse
e,
eternamente,
á deriva
navegasse,
sem fim
e sem termo
nesta lassidão
indolente
em que me quedo
cativa do silêncio
e do sonho...

AV